terça-feira, 9 de junho de 2009

Barthes, o futebol e a paixão




Nunca escrevi sobre futebol. O que é estranho, pois se trata de uma de minhas grandes paixões. Vou elaborar: na verdade quero explicar o porquê dessa paixão. Acho até que vai valer mais como uma tentativa mesmo. Explicar uma paixão parece, de cara, uma contradição em termos...
Roland Barthes, um pensador francês beeeem bacana, publicou, na década de 70, um livro chamado “Fragmentos de um Discurso Amoroso”. Pra quem não conhece, Barthes divide o livro em capítulos que correspondem a episódios do acontecimento amoroso. Ele trata os temas ligados às aventuras/desventuras do sujeito enamorado como eventos de linguagem. Parece complicado, mas na verdade é interessante e um tanto comovente.
Pois quando pensei em explicar meu amor pelo esporte bretão, lembrei do Barthes... Fucei o livro (que já está todo marcado, dobrado e - pra adicionar um toque de melodrama a esse texto – provavelmente borrado de lágrimas de minhas próprias desventuras amorosas) e encontrei algumas ideias que cabem aqui.
O primeiro tópico que me chamou a atenção chama-se “quero compreender” (!). Diz assim: “Ao perceber repentinamente o episódio amoroso como um nó de razões inexplicáveis e de soluções bloqueadas, o sujeito exclama: ‘Quero compreender (o que me acontece)!’”. Achei lindo... Mas não me ajuda muito na tarefa de tentar explicar minha paixão por futebol...
Foi quando a página 23, lindinha, lisinha, sem marca-texto ou dobrinhas, saltou do livro. O capítulo “Amar o amor”. “Lufada de linguagem durante a qual o sujeito chega a anular o objeto amado sob o volume do amor em si: por uma perversão propriamente amorosa, é o amor que o sujeito ama, não o objeto”.
“...é o amor que o sujeito ama, não o objeto...”
Será que é isso?! Amo a paixão pelo futebol? Não o esporte em si? Pode ser...
Sim, porque gosto é de me perder no jogo. De misturar minhas emoções com as daqueles que estão ali comigo, torcendo. Estar rodeado “dos seus” gera uma sensação de pertencimento e aceitação muito grande. Ali, todos estamos no mesmo time (literalmente...). Todos queremos, praticamente, o mesmo. E para que eu seja aceita como parte da multidão, basta uma coisa: amar aquela camisa.
Futebol, pra mim, é pertencimento. Identificação com o outro. Por mais que a gente queira ser original e único, a gente também quer fazer parte. Um dos dilemas da formação da identidade do sujeito pós-moderno! Queremos procurar e encontrar nossa turma.
O estádio é aquele momento catártico onde a nossa turma se reúne pra celebrar exatamente isso: fazer parte, ser aceito, pertencer. Querer o que o outro quer. Daí, comemoramos se conseguimos, lamentamos juntos se fracassamos.
E mais: a paixão pelo futebol tem outras vantagens... Está sempre disponível. Não tem ciúmes. Não preciso esperar que me ligue no dia seguinte. Não há preocupação com figurino, cabelo, maquiagem: meu time não liga pra isso. É uma paixão que não tem mãe pra reclamar que eu não sei lavar a louça direito. Nem família pra me comparar com a namorada anterior. Não preciso apresentar pros meus pais ou amigos. Não tem essa de eu ficar interpretando intenções, tipo, sentar com as amigas e analisar as minúcias de cada mensagem (“mas ele disse ‘a gente se fala mais tarde’. Será que ele acha que vai ligar ou eu mesma ligo?”). Com o futebol, o jogo é dentro do campo, tem as regras pré-determinadas e um juiz apontado pra, na hora, resolver os impasses.
Já pensou que bom se namoro tivesse também juiz? Prefere ficar em casa vendo Globo Repórter a ir naquele showzinho bacana? Amarelo, amigo! Começa a frase com “mas a minha mãe sempre disse que” durante uma discussão? IMPEDIMENTO! Gritou comigo? É vermelho direto. Carrinho por trás. Vai pro vestiário esfriar a cabeça que teu tempo aqui já era! E, quando se encerram os 90 minutos e os descontos, tem alguém pra apitar o fim do jogo. Acabou, cara.
Pode ser sintomático que meu texto sobre paixão às vésperas do primeiro Dia dos Namorados que passo sozinha em seis anos seja sobre futebol. Seja sobre pertencer, ser aceita, fazer parte. Mas isso é assunto que vou tratar na terapia. Ou exorcizar no próximo grito de gol no Gigante...

Um comentário:

PITA disse...

muitoooo bommmm!!! muito bomm! mas vou gritar GOLLL quando for do GREMIOOOOOOOOOO!!! heheheheh

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