segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Leilão do mundo bizarro



Pra começar, já vou esclarecendo que o “leilão” do título não se trata de uma “Leila grande”. Aqui não é a coluna do David Coimbra, ok? (Nada contra, quero apenas deixar as coisas bem claras.) Estou me referindo a leilão daqueles gritaria, tipo “quem dá mais” e tal. (Também não é aquela coisa high-society-“peixe-com-nozes”-silêncio-e-levantamento-discreto-de-plaquinhas da Christie’s!)

Andei pensando sobre auto-estima, relacionamentos, a condição feminina. (Coisa que quem lê esse blog sabe que não é novidade alguma...) Dia desses, conversando com umas amigas, formulei a teoria do tal leilão do mundo bizarro.

Em todo relacionamento, há uma negociação velada em constante desenvolvimento. Nas relações românticas, arrisco dizer que mais ainda. E a gente, pelas mais diversas razões, às vezes se atrapalha bonito nesse processo. Quando isso ocorre comigo, sempre me vem à mente aquela clássica frase da minha mãe: “Se a gente não se dá valor, minha filha, ninguém vai dar!”. Desconfio que, quando a Dona Loila me falava isso, estava mais preocupada que eu não saísse dando por aí na adolescência do que com qualquer outra coisa. De qualquer forma, o conselho é de uma sabedoria tão óbvia quanto profunda.

Não quero me atirar no raso dos estereótipos nem generalizar, mas quem não gosta de uma boa pechincha? Pra que pagar 30 se eu posso levar por 15, não é mesmo?
Talvez seja o isolamento, o medo da solidão. Algumas vezes é insegurança. E, oquei, de vez em quando é paixão daquelas “não vivo sem você”. O fato é que, quando a gente se dá conta, a negociação está avançada e nossa cotação valendo menos que bala de banana do 1,99.

Tenho uma conhecida que, dia desses, conheceu um gatinho na noite. Na ocasião, ela toda linda e cheirosa. Ele, macho na caça mesmo. Ficaram. Ali, a cotação dela estava altíssima. Ele chegou, bateu um papo mega bacana, foi atencioso, carinhoso, gentil, interessante e interessado. Ela gostou. Dele. E ele parecia ter curtido também. Vamos dizer, para propósitos didáticos, que naquele momento ela valia 100.

Quatro dias depois, nada de contato do moço. Mas ela pensou: “Ai gente, tipo, eu sou moderna, néam?! Vou ligar, ora!”. Três horas depois, após inúmeras conversas com suas melhores amigas pra decidirem o script da ligação, ela pegou o telefone e discou. O que ocorre é que, assim que ela apertou o “send”, inevitavelmente sua cotação baixou um pouquinho. Vou ser boazinha, foi pra uns ... 95.

Ele foi básico ao telefone. Sequinho. Conversa sem gordurinhas, sabe? Ali ela já deveria ter percebido que era hora de encerrar a negociação. Mas não. Mesmo assim, convidou o cara “pra fazer alguma coisa”... (Xiiii, caiu pra 90, heim?!) Bom, não preciso dizer que daí pra frente a coisa só piorou. A história foi parar com a menina indo a lugares onde sabia que o cara estaria pra “acidentalmente” encontrá-lo, mil tentativas de puxar um papo com ele que não levaram a nada e a pobre voltando pra casa sozinha, chateada e com a auto-estima mais baixa que o cabelo domado pela chapinha!

Relacionamentos novos ou não, românticos, familiares, profissionais... O leilão está em constante desenvolvimento. Uma amigona me disse que a gente tem que entrar nas histórias com regras claras, pra nós mesmos, sobre o que queremos. Sem radicalismos, acho que ela tem toda razão. Nunca podemos esquecer das coisas que já abrimos mão no percurso da negociação. É claro que o ideal é a gente se encontrar no meio do caminho. Você cede daí, eu daqui – desde que esse ceder não comprometa minha identidade, meus valores e a saúde dessa relação.

A solidão assusta. Perder uma paixão abala (uma dor que nos deu grandes músicas, livros fantásticos, filmes inesquecíveis). Mas falo por experiência própria quando digo que, pior que perder um grande amor, é quando perdemos a nós mesmos. O leilão do mundo bizarro é impiedoso, implacável e inevitável. Vigiai! Cuidado com os perigos do “quem dá menos”! Porque, quando a gente menos espera, a cotação tá lá no chão: é o dinheiro pro táxi e olhe lá!

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse era o texto que me faltava! Gostei da maneira que foi colocado, vou repensar muita coisa...

Camila Joner disse...

resumindo, mãe sempre tem razão...

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