
Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Uma das melhores oportunidades do ano pra ligar a televisão e ouvir um monte de gente fazendo número dois pela boca...
Como diria meu amigo Gil: “uouou, gente hipócrita-ta-ta-ta!”.
Sim, porque os faustões enchem a boca pra elogiar as conquistas das mulheres, a garra de mulher “que tem jornada dupla, pois tem que trabalhar fora e cuidar do marido e dos filhos”. Aquele lugar comum de sempre... Falam sobre o quanto é triste o fato de que as mulheres ainda não são remuneradas igualmente, ainda são discriminadas ao disputar posições de liderança, e por aí vão.
O problema é que, acabou o discursinho, eles anunciam a próxima atração. “Não perca, depois dos reclames do plim plim, a mulher melancia e a dança da bunda grande”. “Mulher filé disputa vaga na casa do BBB com a mulher melão”.
Aí chega o momento em que eu começo a gritar com a televisão... “Afinal, imbecil, de que lado você está??!!!!”
Eu NÃO sou corte de carne nem item de feira!!! Não sou produto pra consumo!!!
Consumo. Pra mim, essa é a palavra chave aqui. Quando viramos produto pra consumo, começa a valer a máxima “o cliente tem sempre razão”. Quando nós, mulheres, nos tornamos a picanha suculenta, viramos uma coisa a ser analisada, comparada, sujeita à aprovação do cliente.
E não são somente os homens que fazem isso, não! Quantas vezes nos pegamos discutindo com nossas amigas que, “na verdade essa mulher melancia é uma gorda. Se eu engordasse uns 15 quilos também teria uma bunda desse tamanho. Os peitos da mulher melão são de silicone!” ?(...)
E o perigo do tal consumo é que a lei de mercado é cruel. Uma questão regida pela relação oferta/demanda. E, quando percebemos, não somos boas o suficiente. Afinal, uma das leis da qualidade é o constante aperfeiçoamento dos produtos e serviços prestados!
E tem mais! Corte de carne tem que levar “uns tapinhas” pra ficar mais macio... Se aceitamos essa condição, que direito temos de reivindicar salários iguais? Como podemos nos rebelar contra a violência doméstica? (ai, Rhianna! Ai, ai, ai...) Como a gente vai olhar aqueles pneuzinhos no espelho e não entrar em depressão?
Produto pra consumo NÃO TEM DIREITOS. “O cliente tem sempre razão”. Vamos sair das prateleiras, mulherada! Não é nosso lugar! Minha proposta é a extinção total de celebridades cujos nomes artísticos associam a palavra “mulher” com qualquer gênero alimentício! Abaixo as mulheres abacate, melancia, melão, filé, picanha, etc.
Que saudade de nossa infância, quando nosso sonho era ser mulher MARAVILHA...